A mobilidade a pé é uma forma de locomoção amplamente utilizada em áreas urbanas, mesmo em cidades moldadas a partir do deslocamento de veículos automotores. De acordo com a Pesquisa Origem Destino do Metrô de São Paulo de 2017 , o maior número de viagens feitas dentro das áreas urbanas foi a pé, representando 31,8% do total. Em comparação, as viagens de carro e moto somaram 30,9%, enquanto as viagens de transporte público corresponderam a 36,4% (METRÔ, 2019, p. 39). Vale ressaltar que as viagens a pé consideradas nesta pesquisa são apenas as que têm como motivo de viagem o trabalho ou a escola em qualquer distância ou quando os trajetos são superiores a 500m, em outros motivos de deslocamento. Isso significa que quando combinados a outros modos de transportes, como para acessar uma estação de trem/metrô e ponto de ônibus por exemplo, muitas vezes este deslocamento não é considerado. Ainda assim, o número de deslocamentos realizados a pé é superior ao número de deslocamentos realizados por automóvel particular. Esses resultados evidenciam a importância da mobilidade a pé como um meio de transporte relevante nas cidades brasileiras.
A responsabilidade pelo investimento em infraestrutura para a mobilidade ativa (1) é compartilhado por diferentes atores, mas historicamente, as calçadas têm recebido pouca atenção e investimento, que tem sido concentrado em pavimentação e recapeamento, impactando negativamente a qualidade da infraestrutura urbana para os pedestres. Ao mesmo tempo em que as melhorias voltadas para o leito carroçável são de responsabilidade municipal, a manutenção e regularização das calçadas fica sob responsabilidade do proprietário do imóvel lindeiro, resultando em passeios não padronizados, muitas vezes por falta de orçamento e desconhecimento técnico para realizá-las com qualidade. É necessário que o governo assuma a responsabilidade pela mobilidade ativa e invista em infraestrutura para pedestres, com calçadas mais largas, com pisos adequados, sem interferências e bem iluminada, garantindo a segurança e a qualidade do espaço urbano para essa modalidade de transporte.
Diversas alternativas podem ser adotadas para melhorar a qualidade e oferta de infraestrutura urbana para mobilidade a pé. Investimentos em projetos de urbanismo, como a criação de áreas de convivência, e a implantação de ruas compartilhadas são exemplos de iniciativas que podem melhorar a acessibilidade e a segurança dos pedestres. A integração do transporte público com a mobilidade ativa também pode ser uma solução para melhorar a qualidade de vida nas cidades, já que possibilita que mais pessoas utilizem a mobilidade ativa como meio de locomoção.
É importante lembrar que todos nós somos pedestres em algum momento do nosso trajeto diário, seja ao caminhar até o trabalho, escola, pontos de transporte público ou para atividades de lazer. Investir em infraestrutura para pedestres é, portanto, uma questão de prioridade e interesse público, que beneficia toda a população. Quando as calçadas são bem cuidadas, largas e seguras, elas promovem a acessibilidade e a mobilidade ativa, incentivando mais pessoas a caminhar e contribuindo para uma cidade mais saudável e sustentável. Ao investir em infraestrutura para pedestres, os governos estão investindo em qualidade de vida e em uma cidade mais justa e igualitária para todos, independente do meio de transporte utilizado.
1.Mobilidade Ativa: forma de deslocamento que não depende de veículos motorizados, como os deslocamentos a pé e por bicicleta.
Natália Costa. Mestranda em Paisagem e Ambiente pela FAU/USP com foco em Mobilidade Ativa e Segurança Viária no Entorno Escolar. Especialista em Planejamento e Gestão Urbana pela FAU/USP-SMDU e em Planejamento e Gestão de Cidades pela POLI/USP. Arquiteta Urbanista pela Universidade Nove de Julho.
Referências:
METRÔ-SP. Pesquisa Origem e Destino 2017 – 50 Anos. A Mobilidade Urbana da Região Metropolitana de São Paulo em Detalhes. São Paulo, 2019. Disponível em: https://www.metro.sp.gov.br/pesquisa-od/arquivos/Ebook%20Pesquisa%20OD%202017_final_240719_versao_4.pdf.
CENTRO DE ESTUDOS DA METRÓPOLE – CEM (São Paulo). Priorizar o transporte ativo a pé!. Notas Técnicas, São Paulo, ed. NT9, 30 ago. 2021. Disponível em: https://centrodametropole.fflch.usp.br/sites/centrodametropole.fflch.usp.br/files/inline-files/09-nota_tecnica_transporte_ativo_pedestre.pdf.
SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO (SMDU). INFORMES URBANOS: O que mudou na mobilidade no município de São Paulo entre 2007 e 2017?. São Paulo: [s. n.], 2019- . Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/Informes_Urbanos/40_IU_OD_2019_final.pdf.
